
Namoro mais rápido do mundo
Pra matar a curiosidade geral da nação, vou contar a história sobre o namoro mais rápido do mundo. É uma situação muito bizarra em que me meteram e que está 99% resolvida. Ia fazer um vídeo, mas ficaria muito grande e confesso que estou com um pouco de preguiça desse assunto. Mas vamos lá!
Conheci o K. no Bumble. Um aplicativo de relacionamento parecido com o Tinder, mas com umas pessoas mais arrumadinhas. Enfim, conversa vai, conversa vem e ele se mostrou o cara mais incrível do mundo: atencioso, sensível, inteligente, bem humorado e bonito. Bem bonito mesmo! Após dias de conversa nós marcamos um encontro num grande museu aqui de Toronto. Sim, ele também gosta de arte! Marcamos de nos encontrar no domingo. No sábado anterior ele me avisou que machucou o pé no trabalho. Logo pensei que ele iria desmarcar, mas para a minha surpresa ele apareceu no encontro mancando mesmo. Isso que era vontade de me conhecer!
Enquanto andávamos pelas 40 galerias, nós brincávamos de falar francês e interpretar as peças. Por diversas vezes eu tinha que puxar o K. porque ele parecia criança querendo tocar nas esculturas. O passeio foi extremamente divertido! Ele lia algumas placas em francês pra mim (Canadá é um país bilíngüe, lembram? Sim. O K. é canadense. Nascido e criado aqui), o que fazia dele mais fofo e impressionante!
O clima entre nós era divertido, mas com uma pitada de tensão sexual no ar. Terminamos as galerias já andando de mãos dadas, mas nada de beijo. Cultura canadense. Saímos de lá e fomos para um bar esportivo jantar e tomar cerveja. Ao som de uma partida de futebol americano ele perguntou se poderia me beijar. Eu fui lá e o beijei. Perguntar é muito ZzzZz, mas entendo que é da cultura.
Enquanto eu olhava pra cara de rockstar dele, eu cantarolava mentalmente:
” No one knows what its like
To be the bad man
To be the sad man
Behind blue eyes” do Limp Bizkit.
Os olhinhos azuis dele eram hipnotizantes e ornavam com os cabelos loiros naturais. (Sim, falei que sentia inveja do tom dele).
K. 30 anos. Chef de cozinha. Natural de Ontario, me contou que em janeiro fará uma viagem para a Jamaica e estava muito empolgado. Perguntei sobre a escolha do destino e ele me contou que era uma decisão do tio dele: eles iriam numa viagem em família comemorar o aniversário do tio. Esse tio, por sinal, é um grande admirador das ervas e plantas naturais que podem ser fumadas. E o país seria perfeito porque as ervas são mais baratas. Achei meio diferente, mas ok. Cada um sabe de si e essa famosa erva é legal aqui no Canadá. É bem comum ver as pessoas fumando na rua.
Enfim, papo vai e papo vem eu falei que estava com saudade da comida brasileira. Ele me perguntou o que era e eu expliquei “arroz, feijão, bife e salada”.
– Só isso? Eu faço pra você – disse ele sorrindo.
– Jura?
– Sim! Eu sou chef, esqueceu?
Achei a atitude de uma atenção surreal. Agradeci, mas não esperava que ele fosse fazer tão cedo. Ele me acompanhou até a minha estação de metrô e eu fui embora. Quando cheguei em casa ele me mandou a seguinte canção:
And all my life I’ve prayed for someone like you
And I thank God that I, that I finally found you.
(Por toda a minha vida eu rezei por alguém como você. Agradeço a Deus por eu ter, finalmente, te encontrado).
Falei que era uma música muito bonita e muito romântica. Ele disse que era exatamente o que estava sentindo. Achei meio estranho, mas ele era meio assim: sensível. Canceriano, gente! Ele também escreve poesias e já me mandou algumas dezenas inspiradas nos meus olhos.
O negócio era tão bom pra ser verdade que comecei a desconfiar. Todo mundo sabe que passei por um relacionamento muito ruim e desenvolvi a capacidade de perceber quando algo fora da normalidade acontece. Percebi que ele era fora do normal. Nenhum homem foi tão atencioso comigo antes. Será que eu só havia conhecido caras errados e era assim que era um ‘homem de verdade’? Não sabia. Quando a gente não tem certeza precisa observar com mais atenção até desvender o enigma. Foi isso que fiz. Dormi e a vida seguiu.
O dia seguinte passou e ele disse “cozinhei pra você! Fiz comida brasileira”.
– Você tá falando sério? – perguntei surpresa.
– Sim, muito sério. Você falou que queria e eu fiz. Te entrego hoje à noite.
Quanta atenção! Quanto carinho! Me encontrei após a aula de inglês e fomos até o parque mais bonito que tem aqui: High Park. Assim que chegamos ele falou “aqui geralmente tem uns drogados, mas hoje tá tranquilo”. Estranho! Nunca havia escutado falar daquilo. Mas ele é local, né? Devia saber do que tava falando. O parque estava bem tranquilo. Tudo aqui na cidade é muito seguro! Comecei a comer e que saudade eu estava do arroz e feijão! Entrei em êxtase! “Será que os humilhados estão sendo exaltados, Deus? Tô recebendo o tratamento que eu mereço”. Nesse meio tempo ele falou que os tios dele queriam me conhecer. Eu:” Como assim? Você falou de mim pra eles?”. Ele confirmou e eu dei um sorriso amarelo. Ele:” Então, eles vão marcar um jantar pra você ir lá em casa”. Eu parei de comer na hora, olhei pro horizonte e fingi não entender. “What?”. Ele continuou falando “Jantar lá em casa com os meus tios”. Olhei pra cara dele e disse mais uma vez “what?”.
Ele:” Jantar para que eles possam te conhecer”. Dei um sorriso amarelo pra ele e disse ” Ah tá. Ok”.
Nessa hora eu fui salva pelo gongo e o celular dele tocou. Ele atendeu do meu lado. “Oi, fulano! Tô aqui no High Park com a Patrixia).
[Impressionante como homens gostam de contar vantagem quando estão com mulheres em qualquer lugar do mundo].
Ele deu uma risadinha, se levantou e foi falar ao telefone longe de mim. Não consegui ouvir mais nada. Ele ficou uns cinco minutos lá e eu terminei meu jantar. Ele voltou e disse: “Fulano precisa de mim. Tenho que ir”.
Eu:” Agora?”
Ele:” Infelizmente sim”
Eu:” Onde ele mora?”
Ele:” A algumas quadras daqui”.
Levantamos e fomos em direção ao metrô. Ele:” Vou falar pros meus tios que você vai amanhã, tá?”
Eu:” Então, eu sou tímida”.
Ele:” Quer ir no fim de semana, então? Vou avisá-los”.
Fiquei sem palavras e entrei na estação de metrô enquanto ele foi pro amigo dele. No caminho pra casa comecei a pensar que aquilo não era normal. Uma luz amarela acendeu dentro de mim. Mandei mensagem pra um amigo brasileiro que mora aqui há alguns anos. Perguntei se era algo da cultura canadense pular a parte de ficar e ir logo pro namoro. Ele falou que não, que isso tava errado.
Mandei mensagem para um outro amigo brasileiro e ele rachou de rir de mim. “Pegou um carentão! Isso não é da cultura”. Minha intuição dizia que não. Duas pessoas que considero me disseram que também não era normal. Na mesma hora bati o martelo: isso não era normal!
Fiquei pensando nisso pelo resto da noite. Logo pela manhã ele mandou mensagem querendo saber se poderia me ver após a aula. Dei uma de louca e disse “Estamos num relacionamento? Você tá querendo me ver todo dia e quer me apresentar pra sua família. O que tá rolando?”.
Ele:” Você quer namorar?”
Eu:” Não, eu não quero namorar. Só quero sair e ficar de boa”.
Ele:” Vou respeitar sua vontade”.
Ele continuou querendo me ver nesse mesmo dia e eu comecei a me sentir sufocada e controlada. Principalmente porque ele reclamava quando eu não respondia o celular nos primeiros cinco minutos em que ele mandava mensagem.
Mandei mensagem pra ele falando que não achava que deveríamos nos ver novamente porque ele me assustou com o papo da família e também achei muito estranho ele sair correndo pra visitar o amigo.
Ele pediu perdão e disse que poderia explicar tudo pessoalmente. E que pessoalmente tudo faria sentido. Eu disse que achava estranho porque a impressão que tive é que ele e o amigo eram traficantes e precisavam resolver alguma treta. Ele ficou ofendido e disse que era um cidadão comum e que pagava impostos.
Falei:” Ok. Mas não quero mais”.
Ele não aceitou e disse que deveríamos tentar de novo. Pediu uma outra chance. Falei que era bem difícil porque eu já estava com a cabeça feita (a gente não pode discutir com gente doida).
Depois que decidi terminar esse namoro louco que ele me meteu, K. disse que teve que sair da casa dos parentes. (Foi expulso? Não sei. Parece que sim.) O tio que era super legal virou o maior cu***. E o amigo que precisava de ajuda virou o amigo que “me fod***”.
Parei de respondê-lo e ele começou a mandar mensagem sem parar e depois a me ligar. Ele me disse que tá morando perto de mim agora. (Ele não sabe o meu endereço, mas sabe qual é a minha estação de metrô).
Eu o bloqueei no Instagram e no Facebook. Só continuo com ele desbloqueado no WhatsApp pra ele não surtar de uma vez. Tenho receio que ele comece a me procurar pela cidade e pela estação de metrô. No sábado eu me mudarei de casa, mudarei de estação de metrô e estarei livre dessa situação. Esse foi o namoro mais rápido do planeta e a maior roubada que já me meteram. Namorei sem querer namorar e tô terminando aos poucos pra evitar problemas maiores.

It's a noun?
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