
A maldição dos festivais de música…
Em outubro de 2017 comprei o ingresso e as passagens aéreas para ir ao Lollapalooza, em São Paulo. Meu namorado e eu queríamos assistir ao show do Red Hot Chili Peppers. Tentamos ir na última edição do Rock in Rio, onde eles tocaram, mas não conseguimos comprar os ingressos. Essa seria a nossa chance!
Me organizei, programei e fiz um pequeno roteiro. Passaríamos o fim de semana inteiro em São Paulo. O meu voo saía de Brasília às 6h30 da manhã do dia 23 de março, tinha uma pequena escala no Rio de Janeiro e chegaria em São Paulo às 10h40. O voo do meu namorado era um pouco mais tarde, não iríamos juntos, mas nos encontraríamos em Congonhas por volta das 12h40. Tudo lindo, tudo maravilhoso. O problema é que eu havia esquecido que nunca tinha tido muita sorte com festivais de música.
Lá em 2013, em Brasília, fui com uma amiga ao Circuito Banco do Brasil. Queríamos muito assistir ao show do Jason Mraz. Nesse mesmo dia ainda teve Stevie Wonder e Ivete Sangalo. O namorado dela (agora ex) foi também e surtou de ciúme, creio eu. Não quis ficar perto da gente, falou mal de mim pra ela e disse que não me daria carona pra casa. O clima ficou péssimo no show, ele, realmente, não me deu carona. Dormi na casa dela e nesse mesmo dia eles terminaram o namoro. Ele me culpou por uns bons anos por causa desse término. Não sei o que ele sentiu, se foi ciúme da nossa amizade, não sei. Mas o festival não foi leve e feliz como tem que ser.
Voltando para 2018, cheguei ao Rio e recebi uma mensagem do meu namorado. O voo dele estava marcado para às 8h30. “Perdi o voo. Não vou conseguir chegar em São Paulo às 12h40. Comprei um novo voo de última hora e vou chegar às 14h50”. Pense num pessoa que ficou fumaçando de raiva. Eu não queria perder o show da Zara Larsson, que estava marcado para às 17h. E pra quem não sabe, o Autódromo de Interlagos é longe para cacete do centro de São Paulo. É preciso pegar o metrô, fazer mil baldeações e depois pegar o trem. Quando você, finalmente, chega na estação ‘Autódromo’ ainda tem que andar entre 1km a 1,5km. Enfim, tentei relaxar. Ele iria chegar. Cedo ou tarde, chegaria. Fiquei no Aeroporto de Congonhas esperando. Quando foi 12h ele me ligou. “Não vou conseguir ir ao show com você. Não embarquei de novo. Overbooking, desculpe”. Nessa hora meu mundo caiu e a maldição dos festivais se concretizou. O que era pra ser leve, divertido e feliz, ficou pesado de novo.
Terminei de almoçar, ainda no aeroporto, e comecei a pensar. “Preciso de um lugar para dormir. Onde?”. Originalmente ficaríamos na casa de um amigo do meu namorado, mas sem ele, pra mim, não faria sentido ficar lá. Até porque eu não o conhecia. Liguei para mais de 20 hostels. “Desculpe, estamos lotados por causa do Lolla”. Essa foi a resposta padrão que ouvi. Com a ajuda do meu irmão, diretamente de Brasília, consegui um hostel pra dormir de sexta-feira a domingo. O local era OK e ficava no bairro da Liberdade, que é perto de tudo. Consegui fazer o check-in, tomar um banho hiper rápido e partir em direção ao metrô. Entrei no vagão às 16h. Cheguei dentro do autódromo às 18h30. Sim, perdi o show da Zara, mas não me deixei abater por isso. Os planos mudaram, mas não estragariam o meu fim de semana. Me virei muito bem sozinha, obrigada.
Sobre o caminho, há muito policiamento no bairro. Muito mesmo. A cada 300 metros tinha uma dupla de policiais. Mesmo com tanto policiamento nesse 1km de caminhada, era possível ver vendedor de ecstasy anunciando os produtos livremente. “Olha a bala, olha a bala, essa é pra pular mais que o saci”. E as pessoas iam comprar. Detalhe: tudo isso no meio da rua. Você andava mais um pouco e tinha vendedores de maconha. “R$ 10, cada”. Os policiais faziam vista grossa e fingiam não ver e ouvir.
No fim das contas, entrei no festival e consegui assistir ao show do americano Chance the Rapper. Confesso que fiquei impressionada com a quantidade de fãs que ele tem. Fãs mesmo, de chorar e cantar todas as músicas. A vibe do show, no pôr-do-sol, todo mundo sentado na grama, tomando um drink e apenas curtindo a música foi sensacional. Só esse momento valeu à pena. Foi um sensação de paz interior indescritível. Sem falar que o cara manda bem demais. Adoro esses cantores menos famosos porque eles se entregam 110% no palco. Pra quem não sabe, a área do Lolla é ENORME. Não estou exagerando para ser didática. É grande pra caraca. Tão grande que não me arrisquei a sair desse palco e curtir outros artistas espalhados pelo festival. Resolvi ficar por ali mesmo.
Foi nesse mesmo palco que o Red Hot entrou às 21h20. Nossa, me teletransportei para a adolescência! Nesse show, já tinha muito mais gente. Estava lotado, todo mundo em pé, espremido – sem se importar- e cantando a plenos pulmões. “Psychic spies from China/Try to steal your mind’s elation/ Little girls from Sweden/ Dream of silver screen quotations/ And if you want these kind of dreams/It’s Californication“. Não consigo descrever o que senti de estar ali, naquele momento, naquela energia, realizando um grande sonho, mas ao mesmo tempo bem cansada – pra não dizer exausta- por todo o estresse de todo o dia. Eu quis chorar de alegria, de tristeza, de orgulho de ter prosseguido com os planos e ter ido sozinha a um festival de música. Só sei que tudo fez sentido. Eu tinha que estar ali. E eu tinha que estar ali daquele jeito, sozinha. Eu, meus pensamentos e mais de 100 mil pessoas. Juntos. No fim, ainda dei uma passada no show do Alok. Não sou fã, mas tudo bem. A apresentação parecia um grande réveillon. O DJ chamou atenção pelos fogos de artifício e não pelo talento. Paciência, faz parte.
Cheguei no hostel quase às 1h com um sentimento indescritível de orgulho de mim mesma. Eu sou capaz de tudo. Posso fazer absolutamente tudo. Só cabe a mim fazer acontecer. O resto do fim de semana foi de turismo. Mesmo sozinha não deixei de fazer absolutamente nada do que havia me planejado. Muitas pessoas falaram “mas você foi para o show SOZINHA?”. Sim, eu fui. Não me planejei para isso? Planejei. Não deixo de fazer absolutamente nada por ninguém. Vocês também não deveriam deixar. Fui sozinha e foi ótimo! Red Hot é do caralh*!

Marley e eu

Não tenha medo do DIU
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