O dia em que eu te deixei ir…

A gente já se divertiu tanto, já se amou tanto e hoje em dia nem se fala mais. Eu sei que você está com raiva, eu sei que fiz besteira e eu sei que te perdi. E o pior: eu sei exatamente onde foi que tudo isso aconteceu.

Há dois dias a sensação de perda me atormenta. Sinto que você era um punhado de sal nas minhas mãos e a nossa missão é que eu conseguisse atravessar 7.359 km do Oceano Atlântico – a nado – com você nas mãos.

Você deveria ter chegado intacto do outro lado do oceano. Mas eu cansei de nadar na metade do Atlântico e você foi escapando aos poucos. Por favor, não me culpe. A distância era enorme, você era muito sensível e eu estava nadando sozinha. Hoje eu consigo entender que te perdi e isso dói muito. Ah, como dói!

Sei que você também não acredita nisso, mas eu te amei. Amei durante os quatro meses que estivemos juntos e amei mais ainda durante os 10 meses que estivemos separados. Mas é muito difícil lutar com o mundo, largar tudo e atravessar esse oceano s-o-z-i-n-h-a. Eu queria que você pudesse me encontrar na metade do caminho. Você não pôde.

Eu estava determinada a concluir a missão. Juro que eu estava, mas encontrei um suporte no meio do caminho. Me apoiei nele para conseguir respirar um pouco. Retomei o meu fôlego, mas esse suporte me arrastou para o fundo.

Achei que ele me ajudaria, mas ele me fez afogar. Enquanto eu afundava, o som ia ficando mais baixo, as luzes mais escassas e a minha mão…ah, a minha mão. Aos poucos ela foi abrindo e você se desintegrou na água. Meu punhadinho de sal se desfez. Você se desfez. Me desculpa, Kyle! I love you and I always will!