Saúde

Cura da ansiedade: é possível?

A sensação é de que uma tragédia está prestes a acontecer. Começa então uma inquietação na alma. O coração e a respiração aceleram. As mãos não conseguem mais ficar paradas e o corpo começa a empolar. Aí então as vistas escurecem.  Essa é uma típica crise de ansiedade que enfrentei durante muitos anos. Você tenta se distrair e pensar em alguma outra coisa, mas não consegue. Assistir televisão é em vão. As bocas se mexem, mas você não escuta absolutamente nada. A mesma coisa acontece quando você tenta ler um livro. As palavras se embaralham e formam uma grande sopa de letrinhas.

Da mesma forma que as crises vêm, elas vão. Achava que era inexplicável. Mas a verdade é que tudo tem um início. Um gatilho. É importante dizer que não sou psicóloga e muito menos psiquiatra. Sou mais uma dentre os 18,6 milhões de brasileiros que sofre de ansiedade no Brasil. Isso equivale a 9,3% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Gatilho

Como estava dizendo, a ansiedade não surge do nada. Depois de muito tempo em terapia eu entendi a origem da minha. Eu tinha 19 anos e estava no meu primeiro estágio. Trabalhava com comunicação comunitária e deveria ligar para 25 pessoas por dia. Parece fácil, né? Mas não era. Porque não era simplesmente ligar para 25 pessoas. Essas 25 pessoas deveriam me fornecer dados pessoais para eu conseguir cadastrá-las. Ou seja, quem anda passando dados pessoais para uma estranha no telefone? Exatamente. Ninguém. Então, para conseguir os 25 cadastros eu ligava para umas 200 pessoas por dia. Sempre que uma ligação não dava certo eu ouvia a minha chefe berrando no corredor. “Bora! Vamos bater logo essa meta”.

Comecei a me sentir angustiada de ir para esse trabalho. Sem falar que eu estava sempre doente. Toda semana eu estava resfriada ou com crise de enxaqueca. Depois de alguns meses eu não agüentei e pedi para sair. Pedi, literalmente, chorando para sair. Depois desse estágio eu passei alguns anos sem conseguir falar ao telefone. Eu era jovem e não sabia lidar com pressão naquela época. Com o tempo as coisas foram se ajeitando, parei de ter crises de ansiedade e já conseguia falar ao telefone.

Retorno da ansiedade

Aos 22 anos comecei a namorar. Tudo estava lindo e maravilhoso. Sentia borboletas no estômago e vontade de dançar do nada. Até que com uns três meses de namoro meu ex-namorado começou a me dar alguns ‘perdidos’. Sumia na sexta-feira e aparecia no domingo à noite. Dizia que o celular havia acabado a bateria e tinha dormido na casa de amigos. Eu comecei a ter dificuldades para dormir. A minha cabeça ficava a mil. Sempre que eu conseguia dormir, acordava religiosamente às 3h da madrugada. Eu conversava com ele 37 vezes sobre as coisas que eu não gostava no namoro, mas não adiantava. Tudo se repetia. Isso era só a ponta do iceberg. (Vocês podem ler mais sobre isso aqui). Enfim, mais uma vez eu estava extrapolando meus limites por alguém. Entrei na terapia um bilhão de vezes nos últimos cinco anos. Passei por um psiquiatra. Comecei a tomar remédio. Recusei-me a tomar remédio. Abandonei a terapia. E as crises só se intensificavam. Minha terapeuta vivia falando “Patrícia, você mais chora do que sorri nessa relação. Acha que isso está certo?”. Não, não estava. Minha mente sabia que não estava.

Depois de 4 anos, 8 meses, 14 dias e 18 horas numa relação que me magoava muito, o fim foi anunciado. Após aquele período de luto de todo fim de relacionamento, me assustei quando dormi 8h seguidas. Foi assim, simples como mágica. Toda aquela sensação de angústia e coração acelerado desapareceram. Eu me tornei outra pessoa em relação à saúde mental. Mais de 1 ano se passou desde esse período turbulento em minha vida. E nesse tempo eu nunca mais tive crise de ansiedade. A ‘danada’ já quis voltar em ocasiões pontuais, mas eu aprendi muito sobre mim nos últimos 9 anos de ansiedade. Eu sei exatamente o que é gatilho para me deixar mal e não ultrapasso esses limites. Simples assim! O corpo dá sinais. A gente precisa aprender a se ouvir e a se respeitar. Se a ansiedade tem cura eu não sei, mas tem controle!

Setembro Amarelo

Se você está passando por alguma crise de ansiedade ou depressão, procure ajuda! Existe tratamento e controle. Sabia que nos próximos dias entraremos na campanha mundial do Setembro Amarelo? Pois é, desde 2014 o Brasil faz parte e luta pelo combate ao suicídio. Não sofra! Procure ajuda!

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