Amor Próprio,  DEVANEIOS

Na saúde e na doença?

Here we go again…

São 23h52 de uma sexta-feira. Chove lá fora e eu estou aqui dentro de molho. Após três anos de pandemia, testei positivo para a COVID-19 pela primeira vez. 

Estou sozinha em casa. Minha cabeça dói e começo a contar a quantidade de comida que ainda tenho. Acho que vou ter que racionar, penso eu. 

Minha boca está seca e meu estômago embrulhado. Lembro de dezembro de 2021. Eu havia acabado de voltar de uma viagem com o meu namorado. Ele estava muito mal! Havia contraído H5N2. Ele estava tão mal que me ofereci para fretar um avião particular para que pudéssemos sair da ilha onde estávamos. Eu não queria que ele sofresse por horas no catamarã. 

Quando, finalmente, voltamos pra Brasília, ele melhorou. Mas aí, eu adoeci. Senti tosse, dor de garganta, coriza, dores musculares, dor de cabeça, mal-estar geral e febre. Febre essa que estava quase em 39 graus. 

Meu namorado, que morava comigo, precisou acompanhar um evento político num domingo. Entendi. Afinal, era trabalho. Ele me pediu para avisá-lo sobre como eu estava. Mandei mensagem à tarde toda a cada vez que a temperatura subia. Eu não estava mais aguentando e avisei que iria ao hospital. Ele falou que iria comigo. Esperei, esperei e esperei. Fui sozinha. Dirigindo. “Estou terminando e te encontro no hospital”, disse ele. 

Passei algumas horas no hospital tomando remédio na veia. Sozinha. Foi nessa hora que a minha ficha caiu e percebi que essa relação não tinha o menor futuro e que eu sempre estaria sozinha. Quando eu mais precisasse, estaria sozinha. 

Finalmente tive alta médica e ele estava na porta do hospital me esperando com a cara mais sem graça do mundo. Me perguntou se eu queria lanchar e e eu disse que não. Já era quase meia-noite. Fomos pra casa. Eu me sentia fisicamente e emocionalmente cansada. 

A partir daquele dia entendi que passaria por muitos dias doente sozinha. O relacionamento não durou muito depois daquilo. Os anos se passaram e há um mês fui ao hospital com uma crise de amigdalite aguda. Estava sozinha. Tomei benzetacil sozinha. Quem eu achava que me mandaria mensagem perguntando se eu havia melhorado, não mandou. Detalhe: duas semanas antes ele estava doente e eu fiz questão de perguntar todos os dias sobre seu estado de saúde. 

Mais uma vez me vi preocupada, me doando e ficando sozinha. Não que eu faça as coisas esperando reconhecimento, mas reciprocidade faz bem. Hoje estou com Covid-19 e advinha só…sozinha. Mas hoje não esperei nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhum lanche, nada. Eu entendi que, por mais que doa, por mais que eu chore, sempre serei a minha melhor companhia. 

Ainda bem que sempre soube me cuidar… sozinha!  

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