
8 ou 80?
Profissões iguais e ambições parecidas, foi assim que a gente começou a se conhecer. Na época, confesso que eu estava na vibe mais de romance do que de trabalho. Fiquei com um pouco de preguiça de ter que falar de marketing fora do horário de trabalho.
Você insistia que queria trabalhar comigo e eu não levava a sério. Mas o seu jeito louco, intenso e ligado no 220V começou a me convencer do contrário. O auge da loucura eram os áudios às 6h da madrugada cheios de vento, onde eu não entendia nada. Que ousadia me mandar uma mensagem tão cedo! Fazer o quê, né? Aceitei o convite para trabalharmos juntos.
Começamos a trabalhar e eu parei de me importar com o sentimental. Nosso primeiro ‘encontro’ foi uma vídeochamada para tratar de um planejamento estratégico digital. Apareci do jeito que deu, sem maquiagem, com o cabelo bagunçado e deitada na cama. Pensava: “Nunca vou ficar com ele mesmo”.
O tempo passou e eu quis te conhecer como amiga. Algo em você me intrigava, talvez seja por sua confiança extrema em pessoas que nunca viu na vida. Não sei se eu sou muito desconfiada, mas achava esse teu lado bem ingênuo.
No nosso primeiro dia de trabalho – sem nunca termos nos visto pessoalmente- você já me passou os dados do cartão de crédito. Lembro que fiquei o próprio meme da Nazaré perdida. Como ele pode confiar tanto em mim? Achei curioso.
Nossas reuniões eram sempre tarde da noite, eu sempre com a cara de derrota e você no pique. Ligado no 220V. Um cigarro atrás do outro na mesma velocidade em que as ideias fluíam. Aos pouquinhos a gente foi estendendo os assuntos profissionais para os pessoais. “Quero falar contigo como amigo”. Você achou que era uma cantada -talvez fosse mesmo-, mas eu queria te conhecer além do marketing. E foi indo assim, dia após dia.
Descobrimos muitas semelhanças, como as profissões dos nossos pais serem iguais, número de irmãos ser o mesmo, passamos pelo mesmo colégio e temos amigos em comum.No fim do trabalho, eu já te considerava um amigo, mesmo sem nunca ter te visto. E, claro, como bons amigos, já tivemos algumas tretas. Só de lembrar me dá vontade de te bater. Mas você é muito bom de lábia e eu perdoei e até hoje a gente ri da loucura que foi. (Mas se fizer de novo, já sabe. Adeus!).
Seis meses depois te vi pessoalmente e parecia que eu já te conhecia. O olhar que me deixava envergonhada nas videoschamadas me despiam pessoalmente. Nunca vi alguém com o olhar tão penetrante na vida. E você, que não é bobo e nem nada, mete logo um sorriso safado depois do olhar. O que eu faço? A única coisa possível: te dou umas beijocas. De novo a gente misturou a atração com o profissional. Ê, laiá! Mas agora com muito mais intimidade.
Agora já sei que você tem medo de sombras e fica uma graça cantando Justin Bieber. É nessa hora que você perde todo o seu jeito de malandro marrento. Diz que não gosta de dormir abraçado, mas não resiste a uma conchinha e um cheirinho no pescoço. Uma fofura!
Criaturinha de nome estranho, esse textão todo -que você nem deve ter lido inteiro- serve só pra dizer que adoro que você seja o meu contraste. Eu sou 8 e você 80. Somos como Yin Yang. Mas, por favor, vai devagar com as aventuras que o meu coração é frágil. Sou uma jovem senhora de 30anos.
Quando chegar o dia e a gente parar de dar umas beijocas, quero continuar sendo a amiga que ameaça te dar um soco na cara quando descobre que você fez merda e que tenta te dar um pouco de equilíbrio e paz. (Mesmo você ignorando os meus áudios).
Feliz dia, I.G!
Um comentário
Pingback: