Saúde

Encontrei a luz no fim do túnel

Senti um calor no meu corpo e tentei abrir os olhos, mas luz me ofuscou. Que sensação era essa? Conforto? Talvez. Sei que já era de manhã. Não me lembro exatamente o dia, mas o sol aquecia a cama e a minha alma. Sei também que não queria me levantar, mas, dessa vez, não era por falta de vontade, mas sim, por excesso de sono.

Será que seria isso mesmo que eu estava pensando? Não podia acreditar. Como eu saberia se estava certa? Esperei mais uns dias para ver se o cenário iria mudar. De repente, me vi colocando roupa de ginástica e indo para a academia. Sem pensar muito, eu só ia. Quando eu chegava lá, não queria ir embora. Voltava pra casa saltitando. Será?

Mas foi quando eu estava dirigindo para o trabalho, com o trânsito completamente parado, que percebi estar sendo observada pelos motoristas dos carros do lado. Uai, o que estava acontecendo? Eu estava dançando e cantando a plenos pulmões sem nem perceber. Caramba! A minha ficha caiu. Então, era assim uma vida sem depressão.

Acredito que 90% das pessoas que convivem comigo não têm/não tinham ideia de que há dois anos eu fui diagnosticada com depressão. O ano de 2021 foi pavoroso e o mês de dezembro, especificamente, foi como a pá de terra. No dia 5 de janeiro de 2022, não aguentei mais e fui ao psiquiatra. O diagnóstico: depressão e ansiedade. Pera! Como assim? Depressão?

Desde os meus 19 anos faço terapia para conviver com a ansiedade. No auge das crises, eu tomava um mês de ansiolítico e tudo melhorava. Recomendado por psiquiatras, obviamente. Mas, agora, depressão era a primeira vez que eu havia sido diagnosticada.

Comecei, então, a tomar um antidepressivo. Eu estava extremamente irritada e chorosa. Eu só queria ficar deitada, quietinha e, se possível, sumir do mapa onde ninguém mais pudesse me encontrar.

Os meses foram passando e comecei a me sentir um pouco melhor. A irritabilidade havia diminuído e eu já ia trabalhar sem ser um grande sacrifício. Mas aí, a rotina me engoliu. Lembro que, durante uma viagem a trabalho, estávamos sobrevoando a Venezuela num avião teco-teco e a aeronave estava balançando muito! Só quem sabe já voou em avião pequeno vai conseguir entender. É três mil vezes pior do que uma turbulência num avião normal. Nesse dia, pensei que se o avião caísse não teria lá grande importância. Na minha cabeça, eu já havia vivido muito. Lembro que fiquei esperando o avião cair com uma sensação de paz inigualável, mas o piloto controlou a situação.

Confesso que depois que tudo passou, esse pensamento me perturbou porque eu, realmente, achava que estava tudo bem morrer, que ninguém sentiria grandes faltas, talvez fossem chorar um pouquinho, mas a vida seguiria. Foi aí que eu tive a certeza de que estava pior da depressão.

Os pensamentos para desaparecer se tornaram frequentes. Se tem uma coisa que me orgulho, é de pedir socorro médico quando eu sei que algo não está normal. Voltei ao médico e eu estava certa: a depressão havia piorado. O veredito: “Vamos dobrar a dose do remédio”. Mais alguns meses se passaram e voltei a me sentir normal. Nem bem e nem mal. Só estava extremamente cansada. Me sentir cansada é melhor do que querer morrer, acreditei. Fiquei trabalhando normalmente, até que saía com as minhas amigas, eu ficava um pouquinho e logo queria ir embora para deitar. “Pelo menos estou saindo”, pensava eu.

Voltei ao médico e o veredito foi: “Não podemos mais aumentar a dose do seu remédio. Já está no máximo. Vamos acrescentar mais um”. E foi assim que fiquei tomando dois remédios, além dos esporádicos que eu tomava pra dormir e me faziam acordar no dia seguinte extremamente dopada.

Eu sei que o tempo passou, fiz novos amigos, a irritabilidade amenizou, o sono controlou, a vontade de sumir desapareceu e tudo voltou a ser médio, a ser normal. Pra quem tem depressão, o normal já é ótimo!

O tempo passou e com o “normal” veio a retirada dos remédios. Achei que ia voltar a cair porque a depressão é traiçoeira. Mas, pelo contrário, apesar das tonturas que sinto, típicas da abstinência dos antidepressivos, me sinto muito bem! Voltei a me achar bonita, voltei a sair, chamar as pessoas para sair, tirar da minha vida namoricos sem futuro, programar viagens e, finalmente, programar um futuro.

Não sei se é assim para todo mundo, mas pra mim aconteceu assim. Sei que preciso me cuidar porque, como eu disse ali em cima, a depressão é traiçoeira. Mas tenho intensificado as atividades físicas, tendo uma alimentação mais nutritiva, passeando mais, aproveitando a minha própria companhia, vendo beleza na vida e, claro, nunca parei com a terapia.

Sei que não é setembro amarelo, mas acho que sempre é um momento oportuno para falarmos sobre saúde mental. Sei que muitas pessoas não se sentem bem e têm vergonha de procurar uma ajuda especializada. Se alguém, por acaso, estiver lendo esse texto e, infelizmente, tenha se identificado, por favor, procure um médico. Eu juro que não é um bicho de sete cabeças. Deixe o preconceito de lado e lembre-se como é bom viver! Se eu consegui chegar até a luz do fim do túnel, você também conseguirá. E te garanto que ela é quentinha, como um abraço.

Com amor,

Pati

Compartilhe:

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *